Será Que
Deus Opera Mediante Uma Organização?
Texto: Tom Cabeen · Tradução: A. V. Roquette
O Propósito
Deste Artigo
- Será que Deus tem uma organização?
- Será que Ele sempre teve uma organização?
- Era Israel a organização de Deus?
- Será que as Testemunhas de Jeová constituem
atualmente a organização de Deus?
- Pode uma organização servir como profeta de
Deus ou seu porta-voz?
- Diz a Bíblia que os cristãos devem identificar
ou ser leais à organização de Deus?
Este artigo foi preparado especialmente visando
pessoas que são ou que já foram Testemunhas de Jeová. Nele, examinaremos a
evidência bíblica que apoia as questões levantadas acima concernentes às
declarações feitas nas publicações da Sociedade Torre de Vigia que afirmam que
Deus sempre operou mediante uma organização. Iremos explorar também a ideia de
que, como um todo ou individualmente, as Testemunhas de Jeová receberam uma
autorização da Bíblia para se tornar o "canal oficial de comunicação"
entre Deus e a humanidade.
A menos que haja indicação em contrário, os textos
citados aqui são [traduções para português] da New World Translation of the
Holy Scriptures, edição de 1971. As citações da The Holy Bible, New
International Version, edição de 1983, revisada em 1994, são seguidas da
abreviatura NIV.
Será Que
Deus Opera Mediante Uma Organização?
A Sociedade Torre de Vigia afirma que Deus sempre
usou uma organização para se comunicar e para dirigir seus servos. Atualmente,
a Torre de Vigia ensina que a organização de Deus deve ser associada com as
Testemunhas de Jeová que, por sua vez, aceitam o Corpo Governante e seu agente
legal, a Sociedade Torre de Vigia, como representantes de um "canal de
comunicação" para atuar como intermediário entre Deus e os homens. As Testemunhas
são instruídas que é através dessa organização que Deus dirige todos os Seus
interesses na terra e que, fora da organização, não há qualquer possibilidade
de salvação ou favor divinos. Um dos requisitos básicos para ser aprovado para
o batismo entre as Testemunhas de Jeová é que o candidato tem que reconhecer a
autoridade dessa "organização dirigida pelo espírito".
A Sociedade Torre de Vigia usa, regularmente, as
publicações e seus representantes viajantes para transmitir diretrizes a
milhares de congregações das Testemunhas de Jeová em todo o mundo. São eles que
coordenam a atividade do serviço de campo, promovem os reajustes em dogmas ou
assuntos organizacionais, estipulam regras e normas para assuntos religiosos e
seculares, além de determinar os procedimentos disciplinares que devem ser
aplicados aos que não se conformarem com tais regras. Os membros das filiais
também recebem, regularmente, os relatórios de seus representantes.1
A expressão "Organização de Jeová", como
é usada nas publicações da Sociedade, significa bem mais do que apenas um grupo
de adoradores. Nela está implícito o fato de que Deus sempre deu a uma pessoa
ou a um pequeno grupo de pessoas, tiradas dentre todos os que pertencem a Deus
na terra, a autoridade de repassar, distribuir ou interpretar informações e
instruções recebidas diretamente dele para o restante dos servos aprovados,
além de que também está implícito na expressão o fato de que Deus não mantém um
relacionamento independente com quaisquer pessoas que estiverem fora desse
"canal de comunicação".
Portanto, é esse o assunto que iremos considerar
nas páginas seguintes. Será que Deus opera mediante uma organização que é
dirigida na terra por um reduzido número de representantes especiais que não
podem ser ignorados ou desprezados? O que diz a Bíblia?
De Adão Até
o Dilúvio
Deus falou diretamente com Adão e Eva. Abençoou-os
e disse-lhes o que Ele esperava deles. (Gênesis 1:28-30) Depois de terem
pecado, foram questionados por Deus que em seguida pronunciou a sentença de
julgamento sobre eles e sobre a serpente. (Gênesis 3:9-19) O julgamento que
Deus fez sobre os sacrifícios feitos por Caim e Abel foi em base pessoal.
Quando Caim demonstrou ter uma atitude incorreta, Deus deu a ele conselho
pessoal, advertindo-o quanto ao pecado. Depois de ter assassinado seu irmão,
Deus o julgou de modo individual. -- Gênesis 4:6-15.
Durante o período patriarcal, obedecer o mandamento
de Deus quanto a tornar-se frutíferos, multiplicar-se e encher toda a terra
exigia que os povos se espalhassem, em vez de se agruparem. Em harmonia com
isso, não há menção alguma de qualquer grupo de servos de Deus que prestassem
adoração num local central ou que como grupo regularmente recebiam
mensagens de Deus que deveriam ser repassadas aos outros.
Quando Deus decidiu tirar da terra os injustos por
meio de um dilúvio, ele escolheu Noé para executar as instruções que serviriam
de proteção tanto para a família humana como para os animais. Deus falou
diretamente a Noé.2
Como "pregador da justiça" (2 Pedro 2:5), Noé atuou como profeta,
aquele que transmite mensagens divinas. Depois do dilúvio, Noé fez sacrifícios
a Deus a favor de sua família, estabelecendo assim o que haveria de se tornar
um padrão durante muitos séculos. (Jó 1:5) Eram os chefes de famílias que
representavam suas próprias famílias perante Deus e, portanto, exerciam a
função de sacerdotes ou mediadores em sentido limitado.
Do Dilúvio
Até o Sinai
Após o dilúvio, Deus repetiu a ordem de "sede
fecundos e tornai-vos muitos e enchei a terra." (Gênesis 9:1)
Novamente, ele continuou a se comunicar com as pessoas em base individual ou
através de anjos, sonhos, visões ou profetas que recebiam as mensagens e a
ordem de repassá-las aos outros. Quando um grupo de rebeldes iniciou uma
conspiração para juntos erigir uma torre, em parte para não ser
"espalhados pela superfície de toda a terra", Jeová Deus confundiu
sua língua, forçando-os a obedecer, pelo menos por um tempo, sua ordem de
encher a terra. -- Gênesis 11:4, 8.
Centenas de anos mais tarde, Deus fez a promessa a
seu amigo Abraão, um notável homem de fé, de que ele se tornaria "uma
grande nação". (Gênesis 12:2) Isso marcou o início de algo novo. Uma
família sob o favor divino haveria de receber atenção especial e produziria o
prometido Messias. Será que isso deu início a um modo mais
organizado de se
comunicar com a humanidade?
À medida que a família de Abraão crescia, Deus
continuou a se comunicar diretamente com seus servos, incluindo pessoas que,
quer temporária ou permanentemente, exerciam a função de profetas. Contudo,
parece que, naquela época, ninguém tinha um entendimento de tudo e nem o
próprio Deus operava unicamente com um só "canal" ou escravo. Por
exemplo, enquanto ainda um mero rapaz que vivia com seu pai, um patriarca e
profeta, José teve sonhos inspirados que falavam de coisas futuras. José foi
enviado por Jeová ao Egito, a fim de preparar o caminho através do qual a
família de Jacó viria a se tornar uma grande nação. Entretanto, Jeová não
revelou a Jacó o que Ele estava fazendo, muito embora o próprio Jacó ainda
fosse um patriarca e profeta. (Gênesis 42:36) Sob a liderança de Deus, setenta
e cinco descendentes de Abraão mudaram-se para o Egito. Quando saíram de lá,
430 anos mais tarde, já ascendiam aos milhões.
Quando chegou o tempo de Deus libertar seu povo da
escravidão egípcia, Ele falou pessoalmente a Moisés através de um arbusto
ardente, dando-lhe a incumbência de fazer milagres, a fim de mostrar tanto aos
israelitas quanto aos egípcios o significado e o poder do nome de Jeová. A
prontidão com que os israelitas aceitaram adorar um bezerro de ouro nas
planícies do Sinai, por exemplo, além de outros sinais que demonstraram que
eles tinham uma fé fraca, sugere que enquanto residiam no Egito eles não
estavam unidos em um só grupo para manter uma adoração pura assim como
fora praticada pelo seu ancestral, Abraão.
Os israelitas entraram num pacto especial com Deus
depois que saíram do Egito. Receberam a Lei que haveria de se tornar um guia em
assuntos que envolvessem a moral, a civilidade e a religião. A Sociedade Torre
de Vigia usa tais eventos como um paralelo de como as Testemunhas de Jeová
foram tiradas do "mundo", especialmente da Cristandade, e como foram
instruídas a partir de um "canal de comunicação" terrestre e central,
o que levou a todos a serem edificados dentro da forma atual de organização. A
nação de Israel é, então, usada como um "tipo" ou um quadro da
altamente organizada Sociedade Torre de Vigia. Será que a Lei Mosaica criou uma
estrutura administrativa centralizada como a que governa as atuais Testemunhas
de Jeová?
Como Foi
Organizada a Nação de Israel?
De fato, Moisés agiu como um "canal de
comunicação" entre Deus e os Israelitas. Faz-se menção dele nas Escrituras
como sendo um "mediador". (Números 12:7; Gálatas 3:19) Como tal, ele
prefigurou Jesus Cristo. (Deuteronômio 18:18, 19; compare com Atos 3:19-23.)
Moisés agiu como líder da nação de Israel e como profeta. Seu sucessor, Josué,
tornou-se um líder, mas não um mediador ou profeta. Nem tampouco foram o irmão
de Moisés, Aarão, e seus descendentes os escolhidos para se tornarem os
sacerdotes. Tanto eles quanto os outros membros da tribo dos levitas receberam
a incumbência apenas de executar funções religiosas e não funções executivas ou
proféticas. Quem, então, dirigia as coisas em Israel?
Não havia qualquer necessidade de um governo
central, uma vez que a nação de Israel ainda era uma única família. Sua
organização baseava-se em famílias. Os anciãos e os "chefes de cem e de
mil" não eram eleitos por voto popular e nem eram designados por Deus.
Eram os parentes das pessoas que eles representavam. Cada tribo constituía um
grupo familiar que, por sua vez, descendia de um único ancestral, o que lhes
conferia parentesco consanguíneo.
A Lei Mosaica fornecia diretrizes quanto à moral e
à religião dos Israelitas. Nela encontravam-se longas definições de pensamentos
pecaminosos ou ações que poderiam ocorrer em qualquer faceta da vida diária,
além de procedimentos específicos a serem adotados diante dessa pecaminosidade.
Contudo, ela não estabeleceu qualquer forma de governo humano ou um corpo
administrativo. Sob a Lei, os israelitas deveriam conduzir suas vidas através
de sua consciência, e não através de governantes humanos que validavam um poder
governamental através de um corpo policial ou de forças armadas. As penalidades
aplicadas aos que desobedeciam ou transgrediam a lei aconteciam em cada
comunidade, pelos próprios habitantes daquela comunidade, sob a supervisão dos
anciãos. Os anciãos supervisionavam as resultantes ofertas e outros
procedimentos religiosos. Cada pessoa era responsável por seu comportamento
diante de Deus, sua família e a comunidade. Essa era uma forma teocrática em
seu verdadeiro sentido: o próprio Deus atuava no lugar de um rei humano.
Será que essa forma de governo funcionava?
Do Sinai Até
Samuel
Depois que entraram na terra prometida, os
israelitas viveram por mais de 350 anos sem qualquer rei humano ou governo
central. "Naqueles dias Israel não tinha rei algum, cada um fazia o que
lhe parecia melhor." (Juízes 21:25) Esse arranjo teocrático não resultou
em anarquia. A evidência prova que isso produziu excelentes resultados.
Conforme necessário, de tempos em tempos, Deus
selecionava e designava juízes. Os juízes agiam como líderes, porém, mais num
sentido militar do que num sentido governamental. Às vezes, mais de um juiz era
designado. Eles não recebiam qualquer autoridade executiva especial e nem
tampouco agiam como reis sobre Israel, pois o próprio Deus era seu único
governante. Os capítulos concludentes do livro de Juízes contêm um relato
interessante e incomum de como a justiça era administrada sob esse arranjo no
caso de um crime peculiarmente grave.
O registro bíblico mostra que durante mais de dois
terços do período dos juízes houve paz na terra. Durante o tempo em que os juízes
eram comissionados para livrar Israel das mãos inimigas, houve três períodos de
quarenta anos e um período de oitenta anos nos quais houve "paz".
(Juízes 3:11; 3:30; 5:31; 8:28) Nunca mais houve qualquer período tão cheio de paz
como durante o período dos juízes. De fato, durante aquele tempo, a Bíblia
relata que apenas uma profetisa, Débora, foi enviada a Israel. O que aconteceu
que mudou aquela situação de tal modo a interferir na condição pacífica da
terra?
Surge Uma Má
Ideia
Com o tempo, os israelitas começaram pedir por um
rei. Eles queriam um governo visível, centralizado. Por que? Seria porque a
forma teocrática de governo que trouxera paz e prosperidade para todas as
gerações não funcionava mais? Não. Seria porque queriam ser protegidos contra a
apostasia? Não. Então, por que? Disseram: "Então seremos como todas as
outras nações, com um rei para nos comandar e ir à nossa frente e lutar em
nossas batalhas." (1 Samuel 8:20) O fato era que queriam ser exatamente
como as nações pagãs em volta deles. A ideia era egoísta, mundana e
anti-teocrática. E foi exatamente isso o que Deus disse. Samuel pensou que
Israel havia rejeitado a ele como profeta, mas Jeová Deus o corrigiu ao dizer
que os israelitas haviam rejeitado a Ele como seu rei. Deus advertiu a
nação de Israel que um governo centralizado iria levá-los a muitas
dificuldades, porém, continuaram a insistir que Deus desse a eles um rei
humano. -- 1 Samuel 8-10.
Deus concedeu-lhes seu pedido. Escolheu um homem
bom e capaz, Saul, como seu primeiro rei. Com o passar do tempo, as boas
qualidades que levaram Saul a ser escolhido foram corrompidas. Deus rejeitou
Saul e escolheu outro rei para Israel, o jovem Davi que veio a se tornar um
homem "agradável ao coração [de Deus]." (1 Samuel 13:14) Mesmo um
homem dessa envergadura não evitou sérias transgressões. O reino de Davi foi
marcado por escândalos pessoais e tragédias familiares.
Salomão, filho de Davi, foi chamado de "o mais
sábio de todos os homens". Seu reinado de 40 anos foi marcado por paz,
prosperidade e felicidade, porém, ao adquirir mais idade, Salomão também se
tornou infiel a Deus. (1 Reis 11:4-6) Em resultado disso, o filho de Salomão,
Roboão, assumiu o trono e Jeová dividiu a nação, para sempre, em dois reinados:
dez tribos ao norte (Israel) e duas tribos ao sul (Judá). -- 1 Reis 11:9-13.
Acabou em fracasso total uma forma de governo
centralizado sobre todo o Israel. Durou apenas três gerações, mesmo
considerando o fato de que Deus era quem selecionava os reis. A partir
desse ponto da história dos judeus, qualquer tentativa de comparar os
israelitas com as Testemunhas de Jeová do século vinte se torna extremamente
difícil e complicada.
Dois Reinos,
Uma Organização?
Depois da divisão em dois reinos, as coisas nunca
foram as mesmas para os judeus. O reino de Judá continuou a ter como rei sempre
alguém que fosse um dos descendente de Davi, ao passo que o reino de Israel
tinha dinastias múltiplas, às vezes sendo substituídas depois de guerras
sangrentas. Os dois reinados lutavam com inimigos externos e entre si. Cada um
tinha sua própria linhagem de reis. O reino setentrional estabeleceu seu centro
de adoração em Samaria, em vez de em Jerusalém que era o território do reino de
duas tribos, ao mesmo tempo em que substituiu quase que totalmente os
sacerdotes levitas por sacerdotes não-levitas, o que os levou à adoração falsa.
É difícil imaginar que poderíamos, de qualquer
maneira, assemelhar a situação governamental entre os judeus a uma única e
harmoniosa organização e compará-la a uma estrutura administrativa central. O
caso não tinha nada a ver se um dos reinos era fiel e o outro infiel.
Tanto em
um quanto no outro reino houve reis bons e maus. Deus não se refreou de lidar
quer com um ou com outro reino. Ele enviou profetas a ambos os reinos. Em
qualquer um dos reinos, assim que um rei mau tomava posse, a iniquidade
imperava. No entanto, sob o reinado de reis com inclinações justas, geralmente
havia um retorno à adoração pura, o que resultou em bênçãos.
O reino setentrional de Israel caiu definitivamente
nas mãos do rei Assírio, Salmanaser, em meados do oitavo século antes de
Cristo. Com o tempo, alguns de seus descendentes retornaram à sua anterior
capital, Samaria, na parte norte da Palestina. Nos dias de Jesus, eram
conhecidos como samaritanos e eram odiados pelos seus primos judeus.
Depois da queda do reino setentrional, o reino do
sul, Judá, continuou a ter bons e maus reis. Devido à sua infidelidade, no
sexto século antes de Cristo, Deus finalmente permitiu que eles fossem levados
cativos a Babilônia pelo rei Nabucodonosor. Assim que terminou o cativeiro, um
grupo de judeus relativamente pequeno retornou a Jerusalém, a fim de
reconstruir o templo e se restabelecer em sua terra natal. Contudo, a maioria
deles nunca retornou à Palestina.
Cerca de vinte séculos se passaram entre a vinda de
Cristo e a promessa feita por Deus a Abraão, seu amigo, de que sua descendência
haveria de se tornar uma nação. É verdade que os Israelitas prestaram adoração
fiel a Deus, em diversas épocas, de forma unida, especialmente nos séculos que
antecederam o inicios das dinastias monárquicas. Contudo, eles nunca tiveram
uma administração centralizada que pudesse sequer, no mínimo, ser comparada à
atual organização da Sociedade Torre de Vigia, tanto no que diz respeito à
forma ou à função. Entretanto, durante todo aquele tempo, continuaram
sendo o povo escolhido de Deus. Como podemos afirmar isso?
Jesus é
Enviado às "Ovelhas Perdidas de Israel"
Por ocasião do aparecimento de Jesus, como nação,
Israel podia ser qualquer coisa, menos uma nação altamente organizada. Eram
governados por estrangeiros. Não praticavam a adoração pura. A maioria deles
(aqueles que haviam permanecido no reino setentrional de dez tribos, mais os
descendentes do grande número de judeus que nunca retornaram à Palestina depois
do cativeiro em Babilônia) estava espalhada por toda a terra. Eram governados
por diversos reis de outras nações. Estavam divididos em suas crenças. Haviam
feito tantos acréscimos à Lei que o simples mandamento de guardar o sábado se
tornara impossível. A adoração que era feita em Jerusalém havia sido corrompida
pelo mercantilismo, por rituais desnecessários e por formalidades.
No entanto, mesmo apesar dessa situação, o
ministério de Jesus foi dirigido aos judeus e aos samaritanos e não aos
gentios. Porquê? Segundo ele mesmo disse, ele havia sido enviado "às
ovelhas perdidas da casa de Israel." (Mateus 15:24) Não obstante a
infidelidade e a apostasia, eles ainda eram o povo escolhido de Deus.
Não foi senão após ter rejeitado o Messias que sua "casa foi
abandonada". -- Mateus 23:38.
Como Deus Se
Comunicava Com Israel
Existem inúmeros exemplos na Bíblia que mostram
como Deus se comunicava com seu povo. A alguns ele falava diretamente (Gênesis
46:1-4; Josué 8:1) ou através de anjos. (Juízes 6:11-24; capítulo 13) Outros,
incluindo os profetas, recebiam visões ou sonhos. (1 Reis 3:5-15; 9:1-9; Isaías
1:1; Amós 7:1-9; Ezequiel 1:1) Mas, a maior parte das mensagens dirigida ao
povo de Deus foi dada por meio dos profetas. Conforme declarado em Hebreus 1:1:
"Deus ... há muito falou em diversas ocasiões e de muitos modos aos nossos
antepassados por intermédio dos profetas."
Na maioria das vezes, os profetas eram enviados a
Israel quando o povo de Deus se tornava infiel. Eles simplesmente recebiam as
mensagens de Deus e as repassavam ao povo, advertindo-o quanto ao perigo de
voltarem à falsa adoração e os encorajava a obedecer a Lei e a praticar a
verdadeira adoração. Quem designava os profetas? Eram designados pelo próprio
Deus, por intermédio do espírito santo. (Números 11:24-29)
Visto que não havia qualquer arranjo na Lei visando
a designação de profetas, nem qualquer legislação oficial que autorizasse os
judeus a proceder dessa forma, cada Israelita tinha a responsabilidade
individual de provar se uma determinada pessoa que se intitulasse profeta
era na realidade um representante de Deus. De modo que a Lei especificava três
sinais identificadores do verdadeiro profeta: (1) o profeta devia falar em nome
de Jeová, (2) a profecia deveria ser cumprida, (3) a profecia deveria promover
a verdadeira adoração. -- Deuteronômio 18:20-22; 13:1-4.
O trabalho de um profeta, conforme descrito na
Bíblia, não representava qualquer prestígio ou poder. Os profetas eram
impopulares. A maioria deles foram tratados de maneira indigna pelo povo
escolhido de Deus. Muitos foram brutalmente perseguidos ou assassinados pelos
líderes da nação.
Será que os profetas de Deus faziam parte de um
corpo central, organizado que fornecia diretrizes a toda a nação de Israel? A
Bíblia menciona grupos de profetas em alguns lugares, tais como 1 Samuel 10:5,
10; 2 Reis 2:3, 5 e 4:38, mas jamais atuavam como qualquer tipo regular como um
"canal de comunicação" de Deus. Na verdade, às vezes alguns profetas
nem sequer sabiam da existência de outros profetas ou mesmo de outros
adoradores verdadeiros.
Por exemplo, durante um dos períodos de
infidelidade do reino setentrional, o profeta Elias acreditava que ele era a
única pessoa em Israel que não havia adorado a Baal. No entanto, Deus revelou a
ele: "Eu tenho sete mil reservados em Israel -- todos aqueles cujos
joelhos não se dobraram a Baal e cujas bocas não o beijaram." (1 Reis
19:18) Sem dúvida alguma, aquelas pessoas fiéis não foram consideradas desleais
do rei ungido que estava no poder. Contudo, ainda assim, certamente não estavam
organizadas como qualquer tipo de grupo. Levavam uma vida modesta e fiel a
Deus, mesmo estando rodeados pelo povo infiel (mas, ainda assim, escolhido) de
Deus.
Durante todo o período pré-cristão, a Bíblia faz
menção de pessoas fiéis que foram leais a Deus, quer seus líderes fossem fiéis
ou não. Foi assim até a vinda de Jesus. Por exemplo, um justo profeta chamado
Simão viu a criancinha Jesus, em cumprimento de uma profecia dada a ele por
intermédio do espírito santo. Em outra passagem, menciona-se uma profetisa fiel
chamada Ana. -- Lucas 2:25-38
O Começo da
Era Cristã
A chegada de Jesus representou o aparecimento de um
novo porta-voz e não um novo canal de comunicação entre Deus e os
homens. Hebreus 1:2 diz: "no fim destes dias nos falou por intermédio dum
Filho, a quem designou herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez os
sistemas de coisas." Haveria Jesus de estabelecer uma organização visível
para representar seus interesses na terra ou será que cada cristão seria um
"embaixador substituindo a Cristo"? -- 2 Coríntios 5:20
Quando Jesus encorajou os apóstolos a serem
vigilantes, "Pedro perguntou: 'Senhor, estás contando esta parábola a nós
ou a todos?' O Senhor respondeu: 'Quem, então, é o administrador fiel e sábio a
quem o amo colocou sobre seus servos, a fim de dar-lhes a porção de alimento no
tempo apropriado? Será bom que aquele servo seja encontrado fazendo assim
quando seu amo voltar. Em verdade vos digo, ele o colocará sobre todos os seus
bens.'" Então, Jesus mostrou que havia diversas possibilidades para os
escravos desobedientes. Ele concluiu: "Aquele servo que conhece a vontade
de seu amo e não se aprontar ou não fizer aquilo que seu mestre deseja receberá
muitos golpes. Mas aquele que não conhece e pratica coisas que merecem a
punição receberá poucos golpes. A todo aquele que muito foi dado, desse muito
será exigido e a todo aquele a quem muito foi confiado muito mais se lhe será
exigido." -- Lucas 12:41-48, NIV.
A Sociedade Torre de Vigia usa essa pergunta de retórica que Jesus fez, de acordo com a passagem
paralela em Mateus 24:44-51, como a base para assumirem a responsabilidade
"do [um e único] escravo fiel e discreto" a cargo de "todos os
pertences [do Amo]." Contudo, é difícil aceitar a ideia de que essa
parábola se refira a múltiplas organizações religiosas, cada uma com certa medida
de responsabilidade, maior ou menor, baseada no que cada uma delas fez com o
conhecimento que obtiveram. Só faz sentido se entendermos essa parábola como
uma exortação aos cristãos individuais para que fiquem constantemente atentos à
importância de demonstrarem uma conduta correta para com outros, especialmente
para com aqueles que professam ser cristãos, mantendo sempre em mente o fato de
que um dia todos terão que se reportar a um Amo maior.
Será Que os
Apóstolos Formavam um "Corpo Governante"?
Se fosse da intenção de Jesus estabelecer um
"canal de comunicação" por meio do qual seria revelado um crescente
entendimento das Escrituras, certamente que os apóstolos seriam aqueles a quem
se revelaria essa "nova luz". No entanto, o registro mostra que isso
não foi o caso. Alguns dos apóstolos são mencionados nos registros inspirados,
durante o crescimento do Cristianismo. Porém, apenas três deles escreveram
parte da Bíblia: Mateus, Pedro e João. Outros dentre os doze não figuraram tão
proeminentemente assim durante o crescimento e disseminação do Cristianismo
como o fizeram, por exemplo, Paulo e Barnabé, Silas e Timóteo. Além disso, a
maior parte das Escrituras Gregas foi escrita por pessoas que não faziam parte
dos doze apóstolos, mais notavelmente, Paulo, também Marcos, Lucas, Tiago e
Judas.
A vida, a morte e a ressurreição de Jesus cumpriram
muitas profecias que, de certo modo, não foram preditas pelos líderes
religiosos dos dias dos apóstolos. Os cristãos precisavam de ajuda para
entender tais profecias. Como foi revelada aos primitivos cristãos a verdade a
respeito do papel de Jesus como o Messias? De acordo com Lucas 24:13-35, no
mesmo dia em que foi ressuscitado, Jesus apareceu a dois discípulos na estrada
para Emaús, a saber, Cléopas e, possivelmente, sua esposa. "Começando com
Moisés e todos os Profetas, ele lhes explicou" [não aos onze] "o que
havia sido dito em todas as Escrituras acerca dele próprio." (NIV)
Essa inteira explanação de como as profecias hebraicas se aplicavam a Jesus foi
um exemplo notável de revelação divina. Depois desse encontro, Jesus partilhou
com eles uma refeição e partiu. Em seguida, retornaram a Jerusalém, encontraram
os onze apóstolos e lhes contaram tudo sobre o encontro com Jesus. Enquanto
falavam, Jesus apareceu a todos os que se encontravam reunidos.
Antes de sua ascensão para o céu, Jesus indicou aos
onze que ele já havia recebido a autoridade de ser incumbido pessoalmente de
tudo: "Toda a autoridade me tem sido dada no céu e na terra. Ide,
portanto, e fazei discípulos de pessoas de todas as nações, batizando-as no
nome do Pai, do Filho e do espírito santo, ensinando-as a obedecer todas as
coisas que vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias até a conclusão
do sistema de coisas." -- Mateus 28:18-20
Antes de sua morte, Jesus disse a seus discípulos
que enviaria o paracleto, um ajudador ou conselheiro que tomaria seu
lugar na terra depois que ele retornasse ao céu: "E pedirei ao Pai e ele
vos dará um outro Conselheiro para estar convosco para sempre -- o Espírito da
verdade. Vós o conhecei, pois ele habita em vós e estará em vós." (João
14:16, 17, NIV) Ao falar mais tarde sobre a obra do espírito santo,
Jesus continuou: "Mas quando chegar a vós o Espírito da verdade, ele vos
guiará a toda a verdade. Ele não falará de sua própria iniciativa; ele falará
apenas o que ele ouvir e ele vos dirá o que ainda há de acontecer. Ele dará
glória a mim por receber aquilo que é meu e o tornará conhecido a vós." --
João 16:13-15, NIV.
Haveria o espírito santo de simplesmente trabalhar
por um curto período de tempo, mais ou menos o equivalente a uma geração,
depois do início da congregação cristã, até que Jesus pudesse organizar a recém
formada igreja com o objetivo de que ela devesse assumir a responsabilidade do
espírito santo, isto é, alimentar os discípulos, "levando-os a toda a
verdade" e ao mesmo tempo falando em nome de Jesus? Não. Jesus disse que o
espírito estaria com eles "para sempre", sem que houvesse qualquer
necessidade de uma substituição.
Considerando que, após sua ressurreição, Jesus
estaria em constante contato com seus discípulos por meio do espírito santo,
não havia qualquer necessidade para que ele os encorajasse a aguardar o
desenvolvimento de qualquer grupo centralizado, composto por representantes humanos
que seriam a fonte de liderança ou de direcionamento. Não houve qualquer
intenção de Jesus de indicar outra coisa quando disse: "... onde há dois
ou três ajuntados em meu nome, ali estou eu no meio deles." -- Mateus
18:20.
O
"Concílio" de Jerusalém -- "Fonte de Nova Luz"?
A Sociedade Torre de Vigia sugere que os anciãos da congregação de Jerusalém, a cidade de onde o
evangelho começou a se espalhar por todo o mundo, tinham uma função bem
parecida com a do corpo governante das Testemunhas de Jeová que toma decisões
sobre assuntos de importância para outras congregações e age como uma fonte de
crescente entendimento da verdade. A Sociedade declara que os anciãos em
Jerusalém estavam agindo nessa função quando surgiu uma questão que envolvia a
circuncisão. É isso o que ensina a Bíblia? Qual era o papel da congregação em
Jerusalém e como o próprio Jesus e o espírito santo agiram no tocante à
abordagem e à solução daquele problema? Examinemos o registro de Atos 15:1-35 e
Gálatas 2:1-14.
De acordo com o livro de Atos, o problema surgiu
quando alguns homens vieram de Jerusalém ("da parte de Tiago", veja
Gálatas 2:12) para a Antioquia e começaram a ensinar algo novo, algo que Paulo
não havia ensinado àqueles gentios crentes. Qual era essa "nova verdade"
de Jerusalém? Disseram: "A menos que sejais circuncidados, segundo o
costume de Moisés, não podeis ser salvos." Isso conflitava frontalmente
com o que o próprio Jesus havia revelado a Paulo, a saber, que era apenas por
intermédio da fé que alguém poderia ser salvo. Paulo argumentou fortemente
contra esse "novo ensino". Mas, os homens de Jerusalém insistiam que
eles estavam certos, de modo que Paulo e Barnabé subiram até Jerusalém para
"discutir o problema com os apóstolos e os anciãos". O registro de
Paulo na carta aos Gálatas mostra que ele subiu a Jerusalém porque havia sido
ordenado pelo próprio Senhor, "em virtude de uma revelação". Com
efeito, alguns cristãos judeus realmente já começavam a acreditar que a
circuncisão era necessária para a salvação.
O relato que Paulo fez à congregação na Galácia a
respeito dessa situação mostra que ele se reuniu em particular com
"aqueles que pareciam ser alguma coisa" na congregação, os anciãos
proeminentes. Ele "pôs diante deles o Evangelho que [ele pregava] entre os
gentios e não cedeu nem por um instante." Aqueles homens piedosos, sob a
liderança do espírito santo, reconheceram que estavam errados, aceitaram a
correção dada por Cristo, através de Paulo, e se dirigiram aos outros anciãos,
dessa feita numa reunião maior, sob a liderança do espírito santo, de modo que
todos chegaram a um entendimento correto. Posteriormente, escreveram uma carta
pedindo desculpas, dirigida especialmente aos gentios da Antioquia, na
qual sugeriram algumas coisas que eles deveriam evitar, a fim de contribuir
para a paz entre os judeus e os gentios, bem como para a própria saúde e
prosperidade deles.3
É evidente que não se chegou a nenhum entendimento
novo naquela reunião. Os anciãos em Jerusalém foram corrigidos, em vez de darem
correção. Esse registro não fornece qualquer evidência de que havia um
"corpo governante" composto de homens em Jerusalém que elaboravam
leis e regras que deveriam ser repassadas a todos os cristãos. Na verdade, o
caso era exatamente o oposto. A evidência mostra nitidamente que o espírito de
Deus agiu por meio de pessoas específicas com a finalidade de livrar a
congregação cristã do erro.
O Espírito
de Deus Trabalha Junto com os Primitivos Cristãos
Jesus disse a seus discípulos que eles deveriam
permanecer em Jerusalém até que fossem "revestidos com o poder de
cima". (Lucas 24:49) Isso ocorreu em Pentecostes. Pedro falou naquela ocasião,
aplicando as palavras da profecia de Joel ao que estava acontecendo. Essa
profecia, que deveria se cumprir durante toda a era cristã, incluía o seguinte:
"derramarei do meu espírito sobre toda sorte de carne, e vossos filhos e
vossas filhas profetizarão, e os vossos jovens terão visões e os vossos anciãos
terão sonhos; e até mesmo sobre os meus escravos e sobre as minhas escravas
derramarei naqueles dias do meu espírito, e eles profetizarão." (Atos
2:17, 18) Essa profecia dava conta de que Deus, através do espírito santo, iria
se comunicar com os cristãos da mesmíssima maneira como havia feito
durante as eras pré-cristãs, diretamente, por meio de visões, sonhos e através
de profetas.
Mostra o registro bíblico que isso realmente aconteceu?
O livro de Atos está repleto de relatos que
ilustram claramente o cumprimento da profecia de Joel. Nele encontramos uma
efetiva e pessoal ação de Cristo, bem como do espírito santo, de anjos, visões
e sonhos durante os primórdios da congregação cristã. Podemos incluir nisso a
conversão de novos crentes, a expansão da congregação, selecionar e enviar
apóstolos e missionários, manter a congregação livre da corrupção advinda da
falsidade, encorajar e dar ajuda aos cristãos em épocas de aflição e provas,
além de orientar a preservação de todas as informações fundamentais que os
cristãos haveriam de precisar nos séculos vindouros, isto é, as Escrituras
Cristãs. Jesus e o espírito santo estiveram envolvidos em orientar e dirigir,
praticamente, todo o crescimento do Cristianismo.
Considere o caso de Filipe e o Etíope. Felipe
estava pregando em Samaria. Um anjo foi enviado até ele na estrada que ia de
Jerusalém a Gaza. Durante a viagem, ele encontrou um eunuco etíope. O espirito
enviou Felipe até a carruagem do eunuco. Depois que Felipe o batizou, o
espírito de Deus levou Felipe embora. -- Atos 8:36, 39, 40.
Considere Cornélio, um homem devoto e temente a
Deus. Ele teve uma visão de um anjo de Deus que havia lhe dito para enviar
homens a Jope a fim de chamar a Pedro. Nesse ínterim, Pedro, ao estar orando no
terraço, caiu em transe e ouviu uma voz dizer-lhe que as coisas anteriormente
consideradas impuras agora eram puras. O espírito contou-lhe a respeito dos
homens enviados por Cornélio. Chegando à casa de Cornélio, Pedro prega o
Evangelho a um enorme grupo de pessoas que se tornam cristãos. -- Atos 10:1-46.
O próprio Jesus converteu Saulo. (Atos 9:3-6, 15)
Saulo (Paulo), sob a influência do espírito santo, tornou-se alguém de destaque
entre os apóstolos por levar a mensagem cristã aos povos judeus. Ele fundou
diversas congregações. Quem o autorizou a agir dessa forma? Teria sido a
congregação em Jerusalém ou mesmo a congregação em Antioquia da qual ele havia
partido para suas viagens missionárias? Não. Saulo e Barnabé foram designados e
enviados como missionários sob a direta orientação do espírito santo. -- Atos
13:1-4.
O registro mostra que as pessoas a quem Paulo
pregava eram orientadas a se dirigir ao próprio Cristo em busca de orientação
em vez de recorrer a qualquer grupo de anciãos, em Jerusalém ou em qualquer
outro lugar. Quando Paulo falou a um carcereiro em Filipos, ele simplesmente
falou a palavra de Deus ao homem e a "todos na casa daquele" logo
depois de sua milagrosa libertação, algum tempo depois da meia-noite. Antes do
amanhecer, o carcereiro e toda a sua família (provavelmente também os filhos e
servos) foram batizados. Será que Paulo dirigiu a atenção deles para uma
congregação local, a fim de que terminassem seu "treinamento"? Não,
pois não havia qualquer congregação ali, apenas um outro recém convertido, uma
mulher de nome Lídia. -- Atos 16:30-34.
Inúmeros outros exemplos poderiam ser citados, mas
a mensagem é clara: O próprio Jesus Cristo, junto com o espírito santo, em vez
de qualquer homem ou grupo de homens, foram os que desempenharam o papel mais
ativo na liderança dos primitivos cristãos. Foi o espírito santo quem orientou
Paulo e seus companheiros durante suas viagens missionárias (Atos 16:6-10;
18:9-11; 20:22, 23; 21:4), livrou-os dos perigos, inspirou-os a escrever cartas
às congregações que haviam sido fundadas pelo esforço deles, além de ter feito
a designação de superintendentes. -- Atos 20:28; 32, 33.
Assim como os Israelitas, os cristãos também têm
como distinguir entre o verdadeiro e o falso profeta e seus ensinos. Ao abordar
esse assunto, o apóstolo João não sugeriu que deveria haver qualquer processo
de aprovação. Pelo contrário, ele disse que deveríamos provar "as
expressões inspiradas" ("espíritos", NIV). "Toda
expressão inspirada que confessa a Jesus Cristo como tendo vindo na carne
origina-se de Deus, mas toda expressão inspirada que não confessa a Jesus não
se origina de Deus. Além disso, esta é a expressão do anticristo que ouvistes
que virá e agora já está no mundo." (1 João 4:1-3) João não focalizou sua
atenção na fonte da profecia ou no comportamento do profeta como critério para
julgar o espírito ou a intenção das mensagens que, alegadamente, vinham de
Deus. Ao contrário, a profecia é julgada por aquilo que ela enfoca. Se a
atenção é no Cristo e em sua obra de redenção, ela vem de Deus. Se não, ela vem
do anticristo. Compare com Revelação 19:10.
Será Que
Deus se Relaciona com as Pessoas Individualmente e Com Uma Organização?
Em vista da surpreendente evidência de que Deus
sempre transmitiu sua vontade por meio de pessoas, alguém poderia perguntar:
Seria possível Deus transmitir certas coisas a nós, individualmente, e outras
coisas por meio de uma organização aprovada que agisse como um profeta? Esse
conceito se baseia na ideia de que uma organização pode agir como se fosse uma
pessoa. A associação com uma organização pode influenciar seus membros a copiar
os pontos de vista de seus líderes e passar a se expressar assim como eles
fazem ou a agir da mesma forma como agem. É como se a organização tivesse sua
própria "mente". Mas, esse não é o caso. Uma organização não tem a
capacidade de ter pensamentos, sentimentos ou opiniões independentes. Ela nunca
será uma entidade separada assim como o é uma pessoa.
As organizações são formadas quando determinadas
pessoas desejam canalizar seus esforços, a fim de exercer uma atividade,
atingir um objetivo ou para desenvolver um companheirismo. A organização pode
ser pequena ou grande, forte ou fraca. Os membros do grupo podem registar uma
sociedade civil, a fim de poder administrar os negócios da sociedade. Podem
designar líderes ou porta-vozes para o grupo, além de incumbir diversos membros
de atividades específicas. Podem estabelecer regras de conduta e métodos
operacionais a ser seguidos, à medida que prosseguem atingindo seus objetivos.
Porém, embora seja comum falar de uma organização como se ela estivesse
conseguindo realizar algo, nenhuma atividade atribuída a uma organização
constitui, na realidade, algo feito independentemente dos membros individuais,
quer estejam atuando em separado ou em conjunto. Qualquer pensamento ou ação
provém de uma pessoa. Se desconsiderarmos os membros, uma organização se
torna, absolutamente, incapaz de gerar, transmitir ou executar ideias. Isso
significa que qualquer informação que emane "da organização", na
realidade, vem de uma pessoa, mesmo que aquele membro esteja sinceramente
tentando falar no nome do grupo. É por isso que, às vezes, é tão difícil para
algumas Testemunhas determinar qual é, verdadeiramente, o ponto de vista da
Sociedade em determinados assuntos, uma vez que as orientações escritas ou
verbais podem ser contraditórias. Isso se dá porque tais orientações refletem
os diferentes pontos de vista das diferentes pessoas que produzem as
informações.
Uma organização simplesmente cria meios para se
atingir um objetivo. Ela não tem ponto de vista ou sentimentos. Ela não pode
agir certo ou errado. Uma organização não pode, de forma alguma, fazer qualquer
coisa de sua própria vontade. Somente pessoas podem fazer coisas. E somente uma
pessoa pode ter uma relação com Deus (ou com qualquer outra pessoa).
Após a Segunda Guerra Mundial, a organização dos
nazistas nunca foi julgada por seus crimes de guerra. Mas as pessoas que
estavam associadas com ela sim. Uma organização não pode cometer crimes e nem
ser responsabilizada por eles. A ela não pode ser imputada qualquer culpa. Mas,
as pessoas sim. É por isso que Jesus, referindo-se à sua chegada em glória, disse
que "separará uns dos outros assim como o pastor separa as ovelhas dos
cabritos." Prosseguindo, ele mostrou que faria um julgamento baseado no
comportamento da pessoa e não em quanto a pessoa havia sido cegamente fiel às
regras ou crenças de uma organização. -- Mateus 25:31-46.
Não quero dizer com isso que as organizações estão
erradas ou que são más em si mesmas. Mas têm de ser encaradas pelo que são e
pelo que não são.
O Que é Uma
Organização?
A palavra em português para "organização"
vem da palavra grega organon que significa um implemento, um instrumento
ou uma ferramenta. De modo que uma organização significa mais do que um grupo
de pessoas. Assim como se dá com as ferramentas ou instrumentos, as
organizações são formadas para cumprirem determinados propósitos ou para
exercerem certa influência sobre algum grupo que esteja fora da organização em
si mesma. O termo está sempre ligado aos negócios, às atividades políticas e
aos movimentos trabalhistas, sendo que todos eles derivam sua força dos
recursos coletivos de diversas pessoas e utilizam essa força para atingir
determinados alvos que, de outra forma, seriam impossíveis de ser conseguidos
através de uma só pessoa.
Uma concordância irá mostrar que a palavra organon
nunca aparece na Bíblia, nem tampouco o conceito que ela contém. As palavras
hebraicas traduzidas por "ferramenta" ou "implemento" são
literais, ao passo que esses termos nunca foram usados nas Escrituras para se
referir, coletivamente, a adoradores aprovados por Deus. Ao contrário, a Bíblia
fala dos cristãos como uma "congregação", "igreja" ou
"corpo", cuja razão de existir reside no próprio corpo. Embora possam
influenciar os que estão fora do corpo, os verdadeiros cristãos vivem para
Jesus Cristo e em função dele, que é a cabeça do corpo. As Escrituras Gregas
enfatizam vez após vez a intensa relação que existe entre o crente individual e
Jesus.
Em contraste com a referência bíblica de um corpo
de crentes, o conceito de uma "organização visível" usada por Deus
como ferramenta ou instrumento para realizar sua obra tal como pregar, anunciar
os julgamentos e qualquer outra atividade é amplamente enfatizado nas
publicações da Sociedade Torre de Vigia. Nesse conceito está inserida uma
característica que encontramos no mundo dos negócios, na política e nas
organizações trabalhistas: um pequeno grupo de líderes autorizados a promover
orientações e decisões a favor dos outros membros do grupo que, por sua vez,
devem obedecer sem argumentar ou sem queixar. E como sempre acontece nos caso
dos negócios, política e nos sindicatos, a lealdade à organização torna-se um
conceito fundamental. Num ambiente assim, a consciência pessoal e o julgamento
individual são menos importantes do que a "unidade" (na verdade,
uniformidade), pois, a menos que a liderança da organização seja obedecida, não
há organização.
Isso significa que a única autoridade que uma
organização tem reside nas mentes das pessoas que obedecem às regras e normas
organizacionais. (Compare com Romanos 6:16.) A obediência às diretrizes
dadas pelos representantes de uma organização pode ser entendida como sendo
obediência à organização. Mas esse não é um fato. Trata-se simplesmente de uma
obediência às vontades dos indivíduos que elaboraram as diretrizes. Uma
organização não tem vontade própria porque organizações não são personalidades
ou entidades com desejo, intelecto ou capacidade independentes. É fácil perder
de vista esse simples fato quando somos confrontados com a evidência da
possibilidade de se conseguir estrondosas consecuções quando as pessoas
canalizam seus esforços. Contudo, prédios enormes e quaisquer outras
consecuções materiais não impressionam a Deus e nem necessariamente indicam seu
favor ou bênçãos. -- Gênesis 11:6.
Não devíamos nos intimidar ou nos deixar ser
enganados quando os líderes de uma organização religiosa apontam para as marcas
visíveis de "sucesso" como se fossem um indicador de que Deus os tem
abençoado ou esteja apoiando seu trabalho. Os recursos e as habilidades de Deus
são, absolutamente, ilimitados. Ele não tem qualquer necessidade de edifícios,
parques gráficos, apoio financeiro ou qualquer outro tipo de estrutura
organizacional com os quais pudesse multiplicar seus recursos, como se
existissem coisas que Ele mesmo não fosse capaz de realizar. Deus não tem
nenhuma das limitações associadas a qualquer organização. Por exemplo, as
regras e as diretrizes organizacionais que possam parecer as melhores para se
governar o grupo podem se tornar injustas para determinados membros dentro do
grupo. Por outro lado, Deus pode dar orientação personalizada a cada um.
Podemos confiar em que nosso Pai celestial conhece nossas necessidades
individuais e Ele irá nos prover tais necessidades da melhor maneira. --
Mateus. 6:31-33; 1 João 5:13-15, 20.
"Vinde
a Mim"
Nos séculos que se seguiram à morte dos apóstolos,
muitas organizações religiosas foram formadas, geralmente com boas intenções,
com o objetivo de prover companheirismo, livramento da perseguição e numa
tentativa de proteger os crentes dos falsos ensinamentos. No entanto, com o
passar do tempo, os fundadores originais morrem e a adesão ao grupo cresce.
Mais cedo ou mais tarde, alguns membros influentes da organização poderão
perder de vista o propósito original que levou à formação da associação ou
organização. Por falta de fé na capacidade de Jesus de satisfazer as
necessidades de seus discípulos ou, talvez, levados por um senso de
responsabilidade ou por oportunidades de ganho financeiro, poder ou prestígio,
eles passam a se esconder atrás dos grandiosos objetivos declarados pela
organização e começam a manobrar as coisas de tal forma a exercer mais controle
sobre os outros. As terríveis consequências que finalmente resultam da
continuidade desse processo estão escritas com lágrimas e sangue nas páginas da
história. Os líderes de tais organizações podem afirmar que representam a
Cristo e começam a insistir que têm autoridade para falar no nome dele. Por
declararem que detêm o direito de interpretar a Bíblia, expulsam qualquer um
que discordar de suas interpretações. Substituem a pura mensagem da Bíblia por
seus próprios pontos de vista e, com isso, engrossam as fileiras de membros com
promessas de segurança dentro da organização. Talvez até consigam manter a
associação por meio de chantagem, coerção ou ameaças; podem ditar regras e
normas aos seus membros, exigir lealdade e apoio financeiro, além de dominar
sobre pessoas sinceras com a tirania da autoridade.
Todas essas ações trazem grande desonra a Jesus
Cristo. Depois de descrever prolongadamente o tipo de conduta que seus
verdadeiros seguidores haveriam de produzir, Jesus advertiu: "Cuidado com
os falsos profetas que vem a vós em pele de ovelha, ao passo que por dentro são
lobos." Ele disse que "tais homens" poderiam ser reconhecidos pela
sua conduta ou pelos seus "frutos", não como uma organização, mas
como pessoas. (Mateus 7:15-20) É por isso que o crescimento organizacional
em si mesmo não mostra as bênçãos ou a aprovação de Deus, pois Jesus disse que
"muitos falsos profetas surgirão e desencaminharão a muitos."
-- Mateus 24:11.
As organizações não são, em si mesmas, erradas.
Podem ser fonte de canalização de coisas tais como tempo, energia ou dinheiro.
No entanto, em mãos erradas, uma organização religiosa pode usar tais recursos
para objetivos outros que não os que dão honra a Jesus Cristo e sua obra de
redenção. Portanto, se as pessoas dentro de uma organização decidirem seguir
sua consciência, em vez da liderança da organização, poderão ter sérios
problemas com os outros membros da organização. Nesse caso, os líderes da
organização podem fazer ameaças e taxá-los de "perigosos" para os
outros membros, ou até mesmo expulsá-los. Isso não é novidade. Se os membros de
uma organização religiosa nos odeiam ou nos chamam de "apóstatas"
pelo fato de termos, conscienciosamente, escolhido seguir a Deus e ao seu
Filho, em vez de aos líderes da organização e, em resultado disso, passam a nos
excluir de sua associação, podemos nos lembrar das palavras reconfortantes de
Jesus: "Felizes sois quando homens vos odiarem, quando vos excluírem
e vos insultarem e rejeitarem vosso nome como mau por causa do Filho do Homem.
Alegrai-vos naquele dia e pulai de júbilo porque vossa recompensa nos céus é
grande." -- Lucas 6:22, 23, NIV, compare com 3 João 9, 10.
Pedro declarou: "Deus não é parcial, mas em
cada nação o homem que o teme e pratica obras justas é aceitável a Ele."
(Atos 10:34, 35) Paulo acrescentou: "[Deus] não está distante de cada um
de nós." (Atos 17:26-27) Nosso serviço a Deus pode se dar em qualquer
lugar, a qualquer tempo e deve ser feito em base pessoal. Deus comprou
cada um de nós, individualmente, com o sangue de seu Filho. Ele quer que cada
um de nós se arrependa, individualmente, de nossos pecados e que aceitemos o
perdão e que nos acheguemos a Jesus. "Vinde a mim", disse
Jesus, "... e eu vos aliviarei." -- Mateus 11:28.
Para Onde
Iremos?
A Bíblia diz que Deus se comunicou com a humanidade
através dos profetas nos tempos pré-cristãos e através de seu Filho na era
cristã. Não há, em qualquer lugar da Bíblia, a menor evidência que possa até
mesmo inferir que Deus tenha alguma vez estabelecido ou trabalhado usando um
pequeno grupo de servos na qualidade de representantes especiais que
regularmente agiam como os administradores dele, revelando ao restante de seu
povo fiel suas mensagens ou seu desejo expresso. É por isso que não existe
sequer uma única exortação na Bíblia de que os servos de Deus devam
identificar ou demonstrar lealdade ou obediência a um grupo de representantes
autorizados como esse.
Não podemos transferir para outra pessoa nossa
responsabilidade pessoal diante de Deus e, assim como temos visto, uma
organização não pode ser responsabilizada por nada. Paulo disse: "Cada um
de nós renda o que for devido a Deus." (Romanos 14:12) No dia que tivermos
que prestar contas a Deus pelo que fizemos, um registro de lealdade a uma
organização não poderá nunca substituir um excelente registro de fé em Deus e
na resultante conduta cristã para com outros, especialmente para com os
seguidores de Jesus.
As conclusões apresentadas aqui, se aceitas, podem
criar um problema para as pessoas que talvez já estejam cogitando se devem ou
não continuar sua associação com a organização da Torre de Vigia. Se decidirem
sair, talvez comecem a perguntar para onde poderão ir. Mesmo que discordem
seriamente de certas doutrinas da Torre de Vigia, talvez ainda assim decidam
simplesmente continuar dentro da organização, visto que as consequências por
deixar a organização, sobretudo, com base em doutrinas, com certeza incluirão
ser rejeitados pelos amigos e pela própria família, além de vitupério e
tagarelice.
Talvez sair da organização não valha o abuso, especialmente se quem
sai vai à procura da "verdade" em outro grupo ou igreja só para, mais
tarde, descobrir que a nova igreja tem certas doutrinas corretas, mas não
"toda a verdade". Buscar a verdade entre as organizações religiosas
pode resultar em improficuidade e frustração. Porém, essa não é, certamente, a
única e a melhor alternativa. Na verdade, a decisão não deveria, de modo algum,
girar em torno da escolha de uma das muitas organizações. Por que não?
As publicações da Torre de Vigia ensinam que a
verdadeira religião tem que ensinar toda a verdade, que se apenas um
ensinamento for incorreto, o inteiro bojo de ensino deve ser colocado sob
suspeita. Sob a ótica da Torre de Vigia, a "verdade" consiste de
"ensinos corretos" ou "explanações exatas" que pareçam se
ajustar à realidade, interpretações que podem ser apoiadas ou "provadas"
pelo raciocínio humano, usando referências bíblicas como apoio da mesma forma
que um cientista ou um matemático talvez tentasse explicar a operação do
universo físico por raciocinar sobre os axiomas ou procedimentos matemáticos
que são considerados como aceitáveis.
Essa abordagem não pode ser usada para se conhecer
a Deus. Paulo advertiu contra essa maneira de se ver o conhecimento: "O
conhecimento enfuna, mas o amor edifica. Se alguém pensa que tem adquirido
conhecimento de algo, ele ainda não [o] conhece como devia conhecer. Mas, se alguém
ama a Deus, este é conhecido por ele." (1 Coríntios 8:1-3) Paulo torna
claro que amar a Deus é muito mais importante do que aquilo que você sabe sobre
os fatos ou sobre as passagens bíblicas. Nenhuma pessoa ou grupo de pessoas, e,
por conseguinte, nenhuma organização, igreja ou grupo religioso sabe tudo sobre
Deus ou seus caminhos. De modo que ninguém poderá encontrar a "verdade que
conduz à vida eterna" por buscar conhecer a "correta" explanação
de passagens bíblicas ou por "provar" posições doutrinais. A "verdade",
no sentido da Bíblia, não é encontrada lá.
Jesus disse: "Eu sou o caminho e a
verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim." (João
14:6) Portanto, conhecer a "verdade" no sentido bíblico deve começar
por se formar uma relação com o filho de Deus, Jesus Cristo, simplesmente
aceitando-o como Salvador, Mediador, Senhor e Rei e por convidá-lo a fazer
parte de sua vida. (1 Coríntios 3:11; Revelação 3:20) Quando muitos dos
discípulos de Jesus o deixaram por não ter entendido alguns de seus ensinamentos,
ele perguntou aos doze: "Será que vós também quereis ir?" Pedro
respondeu: "Senhor, para quem iríamos? Tu tens declarações de vida eterna
e acreditamos e viemos a saber que tu és o Santo de Deus." Os apóstolos de
Jesus não estavam prestes a abandoná-lo em busca da "verdade". A
resposta de Pedro à pergunta de Jesus mostra que ele entendia que o problema
não era para onde ir, mas em quem confiar. Os apóstolos sabiam que eles
não poderiam confiar em nenhuma outra pessoa ou grupo de pessoas que pudesse dar-lhes
ensinamentos que conduziriam à vida eterna.
O apóstolo João nos assegura que nos foi dada
"capacidade intelectual para podermos obter conhecimento do verdadeiro. E
nós estamos em união com o verdadeiro, por meio do seu Filho Jesus Cristo. Esse
é o verdadeiro Deus e a vida eterna." (1 João 5:20)
João continuou: "Criancinhas, afastai-vos dos
ídolos." (v. 21) Por que essa advertência? Porque é muito fácil seguir
outras pessoas ou sistemas religiosos em vez de seguir a Jesus Cristo. As
publicações da Torre de Vigia fazem referência à organização nos mesmos termos
que a Bíblia usa para se referir a Jesus Cristo. As Testemunhas dizem que estão
na "verdade" querendo dizer que estão "na organização". A
organização é tida como sendo aquela que administra "todos os interesses
do Rei" na terra, coisas que Jesus disse que ele próprio iria administrar.
Atribuir a uma organização tal capacidade de ser o canal do espírito de Deus,
de bênçãos e direção, além de ser a única fonte de ensino puro, de liderança e proteção
contra os inimigos, significa nada mais do que pura idolatria. (Compare com
Êxodo 32:4.) E qualquer pessoa que focalizar sua atenção numa organização em
vez de em Jesus Cristo constitui-se, claramente, num falso profeta
Não se deixe desencaminhar pelas alegações
autoritárias de qualquer homem ou grupo de homens. Siga apenas a Jesus. Ele é
quem tem "toda a autoridade no céu e na terra." (Mateus 28:18)
Com base nesse firme fundamento, procure associar-se com outros cristãos. Com
certeza, Deus irá ajudá-lo a encontrar outros verdadeiros cristãos com quem
você poderá partilhar a grandiosa alegria de pertencer a Cristo e de
compartilhar o amor dele, sob a orientação do espírito santo de Deus e da
Bíblia para seu bem-estar eterno.
Notas
1 Esse tipo de organização mundial que recebe
relatórios regulares e também fornece orientação e direção regulares por meio
de um grupo central que está acima dos membros espalhados por toda a terra não
era possível há cerca de dois séculos atrás. O inteiro conceito de uma
"organização internacional" é algo bem recente, resultado de um amplo
desenvolvimento nas comunicações durante o último século.
2 A Torre de Vigia compara a arca de Noé à sua
organização. Ela diz que a arca foi a provisão de Deus para a salvação à qual
se dirigiram todos os justos na terra, a fim de serem salvos da destruição no
dilúvio. É interessante notar que o próprio Noé foi a única pessoa mencionada
no registro bíblico como sendo justo, tanto em Gênesis quanto por Jesus e Pedro
ao se referirem ao dilúvio. (Mateus 24:38; 2 Pedro 2:5) Embora sua esposa, três
filhos e três noras tenham sido salvos do dilúvio juntamente com Noé, a Bíblia
não faz nenhuma questão de estabelecer que a família de Noé era justa ou que
apenas pessoas justas tiveram a permissão de entrar na arca. Não foi muito
tempo depois, nos dias de Abraão, que Jeová é mencionado como o Deus de Sem.
Pelo menos alguns dos filhos de Noé podem ter sido poupados quer por causa de
Noé ou para dar prosseguimento à raça humana. Mais tarde, foi oferecida a toda
a justa família de Ló, bem como genros, a possibilidade de salvação da
destruição de Sodoma e Gomorra, mas não demonstraram qualquer inclinação forte
para com a verdadeira adoração.
3 Na carta, os gentios são encorajados a se abster
de "comida poluída pelos ídolos" e "da carne de animais
estrangulados." Mais tarde, no entanto, Paulo discutiu o assunto de comer
carne e outros tipos de alimento tornando claro que comer ou não comer era uma
questão de consciência e que, para os cristãos, evitar fazer outros tropeçarem
por meio de suas ações era uma questão extremamente motivadora. Compare com
Romanos 14:14, 20, 21; 1 Coríntios 10:19-33.
Autor
Este
artigo foi escrito por Tom Cabeen, uma ex-Testemunha de Jeová que trabalhou na
sede mundial da Sociedade Torre de Vigia, em Brooklyn, Nova Iorque, de 1968 a
1980. Este documento poderá ser copiado e distribuído, no todo ou em parte, sem
a autorização escrita do autor, desde que não haja nenhuma transação comercial
envolvendo ganho. Quaisquer perguntas ou comentários poderão ser dirigidas em
inglês ao autor, c/o 57 Plains Road, 3rd Floor, Milford, CT 06460-2573 ou por
e-mail: tcabeen@brci.org. Os direitos autorais desse documento pertencem a
Thomas W. Cabeen. Copyright © 1994. Todos os Direitos Reservados
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