Por Jorge Fernandes Isah
Introdução
Este
é um trecho pinçado de um estudo e meditação no verso de Romanos 13.10 o
qual é o seguinte [1]:
“O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o
cumprimento da lei é o amor.”
No
trecho abaixo, abordarei a questão da impossibilidade do homem cumprir a lei, e
da necessidade do Salvador divino-homem, Jesus Cristo. É claro que esta
abordagem não é exaustiva, nem tem pretensão de sê-la; é muito mais uma
apresentação do tema, e da análise de que o Justo, Santo e Salvador teria de
ser poderoso, infinito e eterno, algo que está muito além, e aquém, da condição
humana em sua finitude e corrupção.
Espero, se assim Deus o quiser,
em breve, tecer e aprofundar-me mais no assunto, aparando as muitas arestas,
sem que vá criar outras, é o que tenciono. Oro, para Deus me abençoar, e ao
leitor, que antes de se debruçar sobre este texto, reconheça que o meu único
objetivo é ser fiel à verdade, Cristo, o qual quero, acima de tudo, glorificar
e honrar, como prova da minha mais profunda gratidão, por quem ele é, fez, e,
sobretudo, pelo amor com que me amou eternamente.
Soli
Deo Gloria!!
Cristo e a Lei
Alguns
cristãos reputam a lei como maléfica, como um entrave à santificação e à
comunhão com Deus. Tendo em vista o seu caráter obrigatório, uma exigência,
entendem ser isso danoso para a vida espiritual do homem. A premissa é, muitas
vezes, a de que: se não se é capaz de cumpri-la totalmente, não se deve
preocupar em cumpri-la em qualquer de seus preceitos. Ora, essa não é outra
senão a heresia do antinominialismo, que defende a vida cristã sem qualquer
lei, apelando para a graça absoluta. É claro que a graça é absoluta, pois
procede do Deus absoluto, mas estaria o homem dispensado de cumprir a Lei por
um mero capricho da graça? Ou seria a graça o fomentador do cumprimento da Lei,
de maneira que o homem se aprimoraria no desejo íntimo e sincero de obediência
a Deus e à sua vontade? Estaria a Lei alijada da graça e vice-versa? Ou ambas
seriam manifestações divinas unidas por sua vontade sobrenatural de nos fazer
semelhantes a Cristo? Homens imperfeitos sendo cada vez mais identificados com
o Senhor que os salvou, chamou, transformou e santificou? A salvação prescinde
o zelo? E a eleição a obediência? Penso, categoricamente, que não!
A
alegação de quem defende uma posição de antinomia é de que cumprir a Lei seria
farisaísmo, hipocrisia, e uma atitude legalista, manifestações pecaminosas
daquele que não tem a graça sobre a sua vida. Acreditam que a graça se
manifesta cada vez mais onde o pecado abunda. Tomam de Paulo uma afirmação e
lhe dão outro sentido, distorcendo-o, tornando em mentira a verdade, em engano
a fidelidade, em morte a vida.
“Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse;
mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; Para que, assim como o
pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida
eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor” (Rm 5.20-21)
Este
trecho não sanciona o pecado, muito menos o estimula ou anula, como se o homem,
debaixo da graça, pudesse abusar dela, tornando-a em desgraça. O apóstolo não
está dizendo que quanto mais se peca, mais a graça se manifesta, mas que Deus,
em seu amor e bondade infinitos, não levou em questão a multidão de pecados do
seu povo, derramando sobre a propiciação dos pecados, ou seja, o sangue de
Cristo derramado na cruz nos livra da condenação e separação eterna de Deus.
Não é um salvo-conduto para o pecado. Nem o tratar com desprezo ou
trivialidade. Muito menos uma forma de incentivo ou ânimo. Paulo está a dizer
que onde haveria condenação e punição, Deus nos entregou a sua absolvição.
Sendo todo o pecado uma ofensa direta a ele, somente o Senhor poderia nos
perdoar e absolver. O duro e feroz julgamento ao qual fazíamos jus, recaiu
sobre o seu Filho. Alguém teve de pagar a pena, e não fomos nós. Porque nos era
impossível quitá-la. Apenas o Deus-Homem, 100% Deus e 100% Homem poderia
realiza-lo; ninguém mais.
Quando
Adão cai, todos nós caímos. O pecado nos foi transmitido como por uma doença
altamente contagiosa, da qual ninguém a não ser o Santo estava imune. Sim,
ainda que fosse uma possibilidade, a de que Cristo pudesse pecar, não havia
potencialidade nele para a transgressão, para a rebeldia. Pelo contrário, como
ele mesmo disse, viera ao mundo para fazer a completa vontade do Pai, cumprindo
toda a Lei, e padecendo como um inocente.
Naquela
cruz, o Santo, imaculado, sofreu o castigo que nos pertencia, do qual não
poderíamos nos livrar, se o esforço empreendido fosse nosso. Por mais empenho e
disposição no sentido de obediência à lei divina, ela estava a nos acusar a
todo momento, espetando-nos com sua ponta dura e letal, desferindo golpes
mortais na carne e na alma, fazendo-nos definhar pouco a pouco ao seu castigo,
à sua implacável justiça.
Com
isto, não estou dizendo que a Lei é pérfida ou injusta, mas de que ela,
sobretudo, aponta-nos a condição de perdidos, afastados, inimigos de Deus,
quando a transgredimos, quando insidiosamente tentamos burlá-la,
negligenciá-la, desafiá-la, desrespeitá-la. Assim fez Adão. O homem que deveria
cuidar da mulher, de toda a criação, como mordomo instituído por Deus, sucumbiu
aos apelos néscios de Eva. Da serpente. Não foi a Lei a instiga-lo, mas a
cobiça. Não o preceito a inflamá-lo, mas a soberba e a vaidade. A santidade já
não era possível ao coração inclinado à desobediência. A pureza não mais o
dominava; a fleuma da concupiscência tomava-lhe o lugar. Nem toda a profusão de
bênção e favores dados por Deus seriam capazes de impedir o ingrato de
desprezá-lo. Adão olhava o fruto. Apetecia-lhe o fruto. Desejava-o. Não
resistiu a tocá-lo. Nem o comer. O cravar-lhe os dentes foi apenas o ponto
final de uma longa trajetória de declínio e morte. Não foi o início, mas o
desfecho final da tentação, da rebeldia presente nos primórdios do seu desejo.
Adão
pouco a pouco se convenceu de que a realidade apresentada por Deus era falsa,
mentirosa, e de que a ilusão proposta pela serpente era factível e verdadeira.
Não sabemos quanto tempo durou o convencimento para a queda. Segundos, minutos,
horas. Talvez dias. O certo é que quanto mais se deixava enredar pela fraude,
mais ela se solidificava em seu coração. O pecado se agigantou, tomou-lhe a
vida, e não mais era possível resistir, a partir de certo ponto. Adão poderia
manter-se fiel a Deus com uma simples recusa: bastaria expor a serpente ao
ridículo, lançar-lhe em rosto a sua desfaçatez e ignomínia. Como ele poderia se
deixar enredar por alguém de quem pouco ou nada conhecia?
Ao
contrário, Deus já havia lhe provado quem era, não poderia existir dúvidas de
quem era; os seus feitos, a sua bondade, o seu cuidado, misericórdia e
providência falavam por si. Era clara e nítida a boa vontade divina para com o
casal; entretanto, negaram ouvir a sua voz, dando trela à serpente (deixando-se
enganar) que se viu estimulada a permanecer firme no intuito de destruí-los.
Não
é assim que procedemos, negando ouvir a voz de Deus, em favor do nosso eu ou de
outro eu? Em disposição, ainda que sincera, de sermos ludibriados? De não
reconhecer aquele que é o doador de todas as coisas, que age com infinita
misericórdia, para entregar-nos a nós mesmos ao ladrão de corações? O inimigo
odioso de almas? Ah, quão triste será para aqueles que se entregaram ao grito
estridente de morte do diabo; passar a eternidade em tormento e castigo indescritível
com o algoz. Não satisfeito em aniquilar-se, arrogante e presunçoso, arrasta
consigo multidões de tolos que se entregam às suas artimanhas. Vê-lo sendo
castigo poderá trazer algum alívio, mas não impedirá aqueles que o seguem de
compartilhar da sua dor. Não importa em que nível, o flagelo de satanás e seus
anjos será o mesmo do homem reprovado. Se o sangue de Cristo não o alcançar, a
vara imperdoável de justiça do Pai o flagelará. Apenas o Filho pode livrá-lo da
tormenta no inferno; e bom seria se cada um dos homens se apercebesse disso o
mais rapidamente possível. Mas sabemos que o coração indolente e obstinado
somente poderá reconhecer-se como tal se quebrantando, se esmagado pelo amor de
Cristo, o qual nos constrange. A dureza e impertinência da morte tem de ser
esmigalhada, pulverizada, pela graça, a fim de que um coração de carne viva.
Se
Cristo não o encontrar, o homem jamais será achado. E se perderá
definitivamente na própria multidão de pecados. Enquanto as transgressões o
sufocam, o imobilizam em correntes de contenção, o desespero antecede a dor,
enquanto o verdugo se aproxima, e não lhe restará nada além de lamentar
amargamente, ou praguejar estupidamente, pela derrota que tão desleixadamente
acalentou, cultivou, em meio aos alertas insistentes da palavra, e à exortação
para reconciliar-se, abandonando os caminhos erradios, a fim de seguir os
passos de Jesus.
Enquanto
Adão for o protótipo do homem, a voz da serpente estará sempre a soar em seus
ouvidos, como o sibilar da mais terrível desgraça. E mesmo quando for picado
fatalmente, acreditará ouvir o som matinal dos pássaros, como se o despertassem
para a vida, quando ela é uma lembrança antiga dos tempos em que o homem vivia
no paraíso; mas em sua confusão, desnorteado, era incapaz de retomar o caminho.
O único guia e mestre foi desprezado; o cego a acurar os ouvidos ao chamado
próprio, ou ao apelo de outro perdido.
O Cumprimento da Lei
Como
disse, era impossível ao homem cumprir a lei. A própria condição humana, desde
o nascimento, já a torna impeditiva e impossível de ser cumprida. Nascido em
pecado, tornado desde o ventre um transgressor natural [em sua natureza o homem
já dispõe desta característica, estando inviolável para o bem e a santidade por
si mesmo, uma vez que carrega no seu âmago a marca do pecado herdada de Adão],
mesmo sem ainda ter praticado, levar a efeito ou colocar em prática o pecado, a
semente está ali, germinando, desenvolvendo-se, a fim de dar os seus frutos, no
tempo devido.
A
ideia de que o homem pode, em algum sentido, cumprir a lei é uma fanfarrice de
quem a defende. A lei não veio salvar ninguém, nem lhe dar alguma condição de
autossalvação. Pelo contrário, ela vem nos acusar, nos molestar, revelando a
completa e total incapacidade de ser cumprida por pecadores. Sim, o pecador não
pode cumprir a lei, ainda que o faça extemporaneamente, ainda que a obedeça
parcialmente, ainda que se esforce para manter-se dentro da lei, o fato é que,
para os homens naturais, essa é uma empreitada impossível. Não é o que Paulo
nos diz? Ou estaremos indo por algum eflúvio ilusório e condescendente ao
afirmar algo que nega por completo o testemunho bíblico? Senão, vejamos a
afirmação do apóstolo:
“Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos
que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o
mundo seja condenável diante de Deus. Por isso nenhuma carne será
justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento
do pecado.” (Rm 3.19-20)
Não
há como ser mais claro! Os versos nos remetem à incapacidade humana de se auto
justificar diante de Deus, pois é ele quem nos justifica, e com a sua perfeita
justiça nos faz justos diante dele. Evidente que aqueles que são alcançados por
ela desejarão ardentemente cumprir toda a lei. Querem, no mais íntimo do seu
coração, fazê-lo por gratidão, por amor, porque Deus em sua infinita bondade e
misericórdia não levou em conta as transgressões e ignorância do seu povo, mas
decidiu salvá-lo. Não somente para si, mas dele mesmo. Cada um de nós, eleito
do Senhor, foi salvo da própria condição de inimigo, de miserável, e cego, e
nu, para reencontrar-se com o Senhor, ter comunhão eterna com ele, e
deliciar-se plenamente nele.
Paulo
não revela qualquer possibilidade do homem cumprir a lei. É algo impossível! A
lei veio apenas para revelar, deixar patente a pecaminosidade do homem. É como
um espelho invertido a refletir aquilo que não somos, não alcançamos, nem
realizamos por nosso esforço próprio. Nenhuma carne pode ser justificada diante
de Deus pelas obras da lei, mas é pela justificação graciosa de Deus que somos
capazes de realizar essas obras. É pelo sacrifício de Cristo, o qual nos
justificou, imputando-nos a sua justiça, que ardentemente desejamos cumprir a
lei; ainda que caíamos vez ou outra em seu rigor e impraticabilidade por causa
de haver, por ora, em nós, a possibilidade do pecado, dele ainda se insurgir,
em seus últimos estertores, querendo reavivar o velho homem, e dominá-lo.
Contudo, ela nos remete ao que seremos, quando não mais houver a chance de
pecarmos; seremos santos como santo é o nosso Senhor, e então a lei, aquela
escrita no coração de Adão antes da queda, será completamente escrita em nossos
corações, e não mais o mal nos tocará, nem os desejos impuros nos insuflarão,
nem a fraqueza nos tomará, nem a queda nos levará ao chão. Haverá em cada
eleito apenas a santidade plena, a obediência completa, o louvor perfeito, a a
gratidão absoluta ao Deus que, graciosa e benignamente, nos imputou.
Entretanto, neste tempo, ainda convivemos com o pecado, com a maldita marca
herdada de Adão, e a lei apenas nos faz lembrar aquilo que ainda somos, e o
quanto ainda ofendemos a Deus quando deixamos que ela nos conquiste, domine, e
realize em nós a sua vontade mortal.
Assim,
nenhum homem pode cumprir a lei, nem mesmo aqueles bebês que morreram antes de
cometer qualquer pecado, pois mantém-se pecadores. A semente do Éden está
inserida em suas almas de uma maneira tão destrutiva que a morte lhes aprisiona
ainda no nascedouro. E essa é a prova de que, nem mesmo eles são santos, ou têm
justiça própria, mas carecem da santificação e justificação de Cristo.
Da
mesma forma que uma oliveira é uma oliveira, ainda que não tenha dado frutos, o
homem é naturalmente pecador mesmo que ainda não tenha cometido uma única
transgressão. Se em Cristo existe a possibilidade de pecado, por causa da sua
natureza humana, mas não há, de fato, a potencialidade para o mal e a
transgressão, em nós tanto se encontra a possibilidade como a potencialidade e,
no fim das contas, será apenas questão de tempo para o pecado se manifestar
efetivamente, nos atos e atitudes de rebelião e ofensa a Deus e sua lei. Porque
a essência humana é o pecado, assim como a de Cristo é a santidade.
Então,
apesar da lei ser um norte, um orientador para o homem não ofender a Deus, não
pecar contra o próximo e contra si mesmo, ainda que se possa cumprir um ou
vários de seus preceitos, não nos é permitido cumpri-los integralmente, a fim
de a lei não ser violada, e a justiça satisfeita. É o que nos diz Tiago:
“Porque qualquer que guardar toda a lei, e
tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos. Porque aquele que disse:
Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres
adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei” (Tg 2.10-11).
O
condenado, para ser liberto, tem de cumprir toda a pena; no caso da ofensa a
Deus ela é impagável, pois sendo Deus eterno e infinito, a ofensa atinge-lhe em
sua eternidade e infinitude. O pecador gastaria o “sempre” e jamais quitaria a
sua dívida. Seria eternamente devedor da ofensa. Ao nascermos com o pecado
original, separados de Deus, a lei maior, aquela que nos coloca em comunhão e
sujeição ao Criador, foi quebrada, transgredida, pela desobediência e
inimizade, não restando ao homem nada além de se lamentar, chorar, e clamar por
misericórdia. Porque o pecado é o muro intransponível que impede o homem de ter
comunhão com Deus, uma barreira erguida no seu coração, onde o desejo perverso
e corrompido tomou-lhe de assalto o lugar onde deveria habitar a gratidão e o
louvor ao Criador. Logo, a inimizade eterna somente poderia ser quebrada,
absolvida, pelo ofendido, que em sua natureza eterna livraria o homem das
consequências perenes de sua transgressão. Ou seja, apenas Deus pode tirar o
homem dessa condição; e se ele não o fizer, ninguém mais pode. Por isso,
Satanás, ainda que se arrependesse amargamente pelos seus pecados, ainda que
derramasse todas as possíveis lágrimas que tivesse, ainda que ficasse de
joelhos por todo o restante da sua existência, ainda que se flagelasse
diuturnamente, ainda que fizesse todo o bem de que é incapaz de fazer, ele
jamais pagaria o preço da sua rebeldia. Não há como criaturas temporais
quitarem uma dívida com o ser supremo e eterno. Apenas se deve esperar o perdão,
clamar por ele, e aguardar que a justiça divina seja satisfeita.
A
lei de Deus é sábia porque infere proporção às penas; não se pune alguém que
cometeu um crime por engano com aquele que o realizou deliberadamente. Ainda
que o mal tenha se realizado em ambas as situações, a pena do criminoso por
negligência ou omissão não se equipara em gravidade ao criminoso por dolo, que
desejou produzir o mal. Enquanto este pecou por eficiência, alcançando o seu
objetivo inicial, aquele pecou por inépcia, sem que fosse o alvo da sua
vontade. Um motorista que mata um transeunte por imperícia ou barbeiragem não
está na mesma condição daquele que planeja uma armadilha, uma emboscada, e
assassina deliberadamente outrem. Da mesma forma, um crime praticado contra um
animal, ou uma propriedade, era reparado na proporção do bem, quando muito,
acrescido de um valor extra como punição pela incúria. Se o crime era contra a
vida alheia, se por omissão ou desleixo, a prisão era o castigo principal; se o
atentado contra o outro era deliberado, maquinado, engendrado, a punição era
com a própria vida do agressor.
Imagine
então a transgressão contra Deus? O supremo Criador e Senhor de todas as
coisas? Ao Deus eterno, infinito, perfeito e bom, quem pode pagar uma ofensa?
Umazinha sequer? E quanto a várias e múltiplas transgressões? A punição eterna
seria pouco para tamanho crime. Por isso, nenhum homem está habilitado a
pagá-la; a sua condenação é por toda a eternidade. A sentença não pode ser
outra. A lei, portanto, não veio para que o homem a cumpra, mas para que saiba
da gravidade de seus pecados, e de como é incapaz de obedecê-la em toda a sua
extensão, e de reparar, saciar a justiça divina, pagando uma dívida insolvível.
Nesse
quadro de completa e total impossibilidade humana de autorrestauração, Deus, em
sua infinita graça, propiciou-nos o resgate, a libertação das amarras malignas
a aprisionar o seu povo, livrando-o do cativeiro do mal, tirando-o das trevas e
introduzindo-o na luz do seu Filho Amado. Deus nos deu Cristo, ele sim o único
capaz de cumprir a lei em sua integralidade, e dessa forma satisfazer a justiça
divina.
A
ideia de que Cristo veio anular a lei, não ecoa nas próprias palavras do
Senhor:
“Não cuideis que vim destruir a lei ou os
profetas: não vim abrogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que
o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que
tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor
que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus;
aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus.
Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus,
de modo nenhum entrareis no reino dos céus. (Mt 5.17-20)
Ele
veio cumprir a lei completamente, em sua totalidade, porque apenas o Justo e
Santo o poderia fazer; apenas o Justo e Santo agradaria e satisfaria a justiça
divina; apenas o Justo e Santo pagaria e anularia os pecados cometidos pelo seu
povo; apenas o Justo e Santo poderia, pelo seu sacrifício, tomando o lugar
daqueles que amou eternamente, tornar santos e imaculados os pecadores pelos
quais morreu; apenas Cristo poderia, como mediador eterno, religar o homem ao
Criador, fazendo-os aceitáveis diante de Deus. Por isso ele veio. Por isso,
deveria cumprir toda a lei. Por isso, sofreria os rigores da lei. Por isso, fez
para si um povo santo. Recebendo, na cruz, a ira divina. Por isso, ele pôde
dizer, no Gólgota:
“Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou
o espírito. (Jo 19.30)
Quem
mais poderia fazê-lo? Eu? Você? Impensável o homem cogitar-se no lugar de
Cristo, como propiciador da sua redenção.
Quando
outras religiões, inclusive algumas que se consideram “cristãs”, mas que de
fato não têm nada a ver com a verdade, alegam que Cristo é um ser criado, um
deus menor, ou apenas humano, uma alma iluminada, mas nada além disso, podemos
entender em quão grandes trevas estão os seguidores dessas seitas, e quão
incompreensivelmente a pessoa do Filho é. Não o conhecem. Supõem conhece-lo.
Mas estão mesmo apegados ao delírio contínuo de crerem senhores de si, quando
não passam de escravos do pecado, de um coração entregue à própria corrupção,
distante do Senhor, e vivendo na ilusão, na mentira mais vergonhosa, da
expectativa de uma autorredenção.
O
pulo de fé capaz de jogá-los no mais profundo, escuro e insalubre abismo.
Nota: Dexei o texto sem uma “conclusão” com o
propósito de fazê-la em outra oportunidade, já que temos aqui um esboço, e,
diante do muito que ainda devo falar sobre o assunto, me pareceu precipitado
“desferir” um ajuste definitivo.
Fonte: www.napec.org
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